quarta-feira, 28 de setembro de 2011

erês

pegamos sementes, galhos, mudas de plantas
do jardim, do quintal, do canteiro
pegamos para plantar do nosso lado
para vermos de perto crescer
para lembrarmos do momento
da peraltice jovem
para ela ficar conosco
para sempre jovem
a tez da gargalhada
saindo do esconderijo
de quem brinca


"o segredo de São Cosme
só quem sabe é Damião"

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

uma viagem
pela passagem
uma viagem
uma paisagem
pela viagem
selos colados
nostalgia
tememos antecipar
e ver o que será
tememos
mas sabemos
memória
tudo ficará nela

terça-feira, 20 de setembro de 2011

frágil

de tanto andar
em cima de ovos
virei uma casca
frígida e fosca

minha mão
algo de osteoporose

frágil
a beleza da seda
feita de insetos

insignificantes

nota de falecimento

boca aberta
vôo fuga
corpo mole
corpo duro

cadê você?
que estava aqui
logo agora?

cadê você
que está na minha mão?

ter a morte
em mãos
uma dura ação
sem tempo
pro luto


ai.

domingo, 18 de setembro de 2011

hermenêutica do artista

tanto tempo para pouca coisa
tempo coisa automatizada
tanto tempo que nada
de nada pra nada tempo

o especialista sentado em seu ofício
domina o seu
tempo

o generalista tem braços longos
pontas de dedos mágicas
segura ovos de pássaros
e filhotes perdidos

não há pausa quando tudo é

saber fazer
quando acaba

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

você não pode se ausentar
um segundo

não se mostrar
um segundo

ser olhos observantes
um infinito

canto de sala
um apito

domingo, 11 de setembro de 2011

búfalos cachorros
por algum lugar vamos passando
entre as cercas de arame farpado
vereda rasgando em fiapos
nossa estampa pintada à máquina

folhas de bananeira dos dois lados
juntam-se em um teto verde translúcido
neste teto por onde o meio dia chega

meio dia hora do claro
carro de boi de cachorro de búfalo
passa por ali na percussão da carroça
um boi um búfalo um cachorro afetuoso
um animal com pressa não destrói toda a horta

a folha da bananeira tem um verde de revolta

domingo, 4 de setembro de 2011

Mercúrio

peixe nadando em suas costelas
pantáculo de mercúrio bem próximo ao Sol
bem próximos, porém dois astros
corpos, rotações que se encostam
quando meu pé bate no seu


alguns se espantam, outros riem
das suas considerações
sobre bichos, planetas, movimentos
há um bicho que não se esconde em você
companheiro e atento aos ciclos
a outros bichos, arca de Noé
assim você recupera sem estraçalhar

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Canal Maracanã









O rio, hoje canal,  Maracanã, no  Rio de Janeiro. 


As fotos fazem parte de um ensaio-mapeamento deste fluxo até o Canal do Mangue. Tudo começou com uma foto do Marc Ferrez, que me levou escrever uma poesia. Agora vou seguindo a água-esgoto com fotos, sem reclamar do mau cheiro no percurso, mas imaginando que tudo poderia ser um caminho bem agradável como aquele do começo do século passado. A sombra das árvores que restam confortam, de alguma forma.
Na sombra da quinta imagem, eu, Bruno Barata e o argentino Pablo que desceu do ônibus só para trocar uma ideia conosco.