quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

as corujas agora moram
ao lado do meu quarto
um canto arranha céu
e trincheiras de sonhos exatos

não as vejo
mas aqui elas estão
não como a lembrança de uma maldição
mas um grito de proteção

pegando rato
matando na unha

*

penso pela ingenuidade que passamos
e aquela que ainda move nossos lábios
infantis
perguntas de primeira ordem
e respostas silenciosas

seu alcance é uma chama
que esfria na ponta
fiquemos juntos, porém calados

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

cheguei
não sei mais onde guardam
os garfos e facas
que vou perfurar o que se deve

sem piedade
o tempo da estabilidade traz
inevitavelmente

o assombro da saudade
e da desordem

abraço vocês como ontem
e o cachorro ainda me reconhece com seu faro

isso é que é memória

a  casa da vizinha mudou
a vizinha mudou-se
eu não vou mais lá
além dos sonhos
um olhar de brecha
já tá tudo arrumado
falta só o banho e deixar o quarto
lavar o corpo para sair de casa
e vislumbrar uma porta que se fecha atrás

é melhor assim
por segurança
cantar

na partida o céu parte
noite em dia
e dia em outro lugar

aquele banho é agora
um embrulho na barriga
que levo para lá

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

milhares de pessoas
formando um todo orgânico
bicho mecânico com imagens nas mãos
nos olhos e na cabeça

e nenhuma memória

parece, que seu tempo se foi
num acréscimo ressentido
pelo aquilo não gravado

imensos quadrados na arena
entretenimento disciplinado
danças amorfas
pouca interação
só uma hiper sensação queimando os olhos
tremendo o tímpano

lá, até as palmas são amplificadas

mas não ampliadas
em sentimento

cadê a síncopa??

a bateria é uma câmera fotográfica

ninguém viu isso
??

- é, eu não fotografei.

domingo, 9 de janeiro de 2011

com detalhes é difícil saber
como esse samba acelerou
como teu sorriso se perdeu
no meio da multidão um alô
aceno  e chamada recusada
tem gente que saiu para rua
e não mais voltou para casa
morreu por aí e viajou além
e pode esperar quanto pode
pois a espera é a  promessa
dependurada no caule verde
que sobe na brecha de terra
no telhado do seu cemitério
tenho pena daquele homem
briga em vão com o seu cão
pura, simples, triste  solidão

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

calculamos mal
o tempo
não é assim
tão rápido
que alcançamos
nossos pés

o tempo é do músculo
que se alonga
não há
como calcular

mas vamos varrer o terreiro
antes que o vento sopre

despertar