sábado, 7 de julho de 2012

prelúdio



eu já nasci com cara de velha
com olheiras enormes
temerosa lua minguando

cresci conversando só
com espíritos e deuses em cima da lage
por onde cresceria  numa longa tarde
o segundo andar de uma casa

que sobrepõe aquela
dos desenhos que eu fazia
e que todas as crianças rabiscam

laranja barro vermelho
porta e janela
sagrada família no azuleijo
jardim nas laterais
parede de taipa
um buraco na porta
flores cor de rosa
rosa cor de flores

eu posso dizer
que vi meu sonho sobrepor
o sonho que hoje tenho
como se eu ainda tivesse aquela altura

com que atravessava  pântanos
chorando tristemente
sorrindo com vergonha

dando um conselho
certamente
morrerei com cara de criança