domingo, 27 de outubro de 2013

lambendo ferida

é preciso lamber a própria ferida
curar o apego da vida

num só golpe compassado
e compassivo

lamber como lambe o cachorro

não apenas a sua ferida

mas a do outro que sangra

manguinhas

o vendaval da noite
derrubou as manguinhas
antes de tornarem-se frutas
grandes e comestíveis
as folhas secas também caíram
outras equilibraram-se entre as folhas verdes

acordei muitas vezes de um sono exaltado
ao som do vento e das mangas arremessadas
por ele escolhidas para tocar o chão

o amor de quem está ao lado
mais valioso que qualquer ilusão

o vento desprende e arremessa
o que não se atém com firmeza
digo, pois, que o vendaval
traz consigo a mensagem
da beleza
da solidão
da tormenta
da louvação
da tristeza
da gratidão

a tudo que cai
assim recebe o chão

e do chão
não passa



raio

estrondou
e eu estava dormindo
acordei correndo
com a perna bamba
com o coração palpitando
com o impacto alojado no umbigo

acordei com o raio que caiu
na casa do vizinho
e que locomoveu minhas placas sísmicas

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

escuto a mor

escuto nossa história
do que já foi já é
nossa estória a se criar
acordes no dicionário
e os que escapam quando pode
nosso amanhecer e nosso norte
a se pôr
nossa morte


a mor
te
surge
nu
princípio
cru
da sorte