sábado, 26 de novembro de 2011

caolho

só o que eu vejo agora
posso ver
tenho olhos
pequenos e grandes ao mesmo tempo
só posso fazer com o que eu tenho
em mãos
olhos esmagando
o futuro
por vir
aqui ou lá acolá oxalá
tenho olhos
e vejo o que eu posso dizer
constatei e vi
verei

rua fria, paço, rua, passo

cidades distantes uma das outras
cidades imaginárias
maestras de vidas
conjunto de obras
e desovas pelas cidades
intempéries e fome
luzes de natal
soberbas do consumo humano
burro, fútil
hidrelétrica para alimentar
ruas célebres de fartura
onde morrem poucos ou muitos mendigos
rugas do rosto tão triste do vendedor
que te esmola
que diz ter vindo de bem longe
longe é o seu lugar
esmolas, vários pedintes
seus moradores e seus proprietários
como fogo
pede água
está tudo aberto
como um assobio que vem do vizinho
uma cidade vai se abrir
debaixo do mar
no topo da montanha

o assobio venta sozinho

sábado, 12 de novembro de 2011

um beija-flor morre
depois de resgatado
morre e vira madeira
na mão da menina
morre e vira souvenir
no meio da praça
na mão da menina
aflição da erva daninha



(o que remete a esta nota de falecimento)

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Faisão, anum branco

pássaros que andam
desfilam em chamas
primos das salamandras
faíscas do Sol
andam e desfilam
fileiras inteiras
nunca desbotam
refletem e seguem
subindo no mato
que não podemos entrar

seria um portal?
uma cúpula secreta?

chega um, chegam dois, chega o grupo
um atrás do outro e eu os sigo
até onde eu não posso mais

não são humanos
certamente não são bichos
talvez espíritos
fagulhas em penas

andar com eles, andar como um deles

cantos que eu não lembro

uns chamando os outros
convocando para uma mágica
fértil e transparente

luz que entra nas penas
incendeia seus órgãos internos
queima as pupilas de quem vê
o segredo deles

andar para quem sabe voar

faisão, anum branco

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

executo uma parte
penso em outras tantas
executo com uma espada

sou cortada de vez em quando
e morrerei em algum instante perdido

à sombra da árvore do cemitério
os vivos espreitam as construções dos mortos
e os imaginam por perto
com cheiro de parafina queimada

palimpsestos