segunda-feira, 29 de agosto de 2011

criar parece hoje
um exercício
esgotado
esgoto
ex gotas
excrementos
tudo já foi feito
e está por aí
industrializado

hoje parece crias
de animais antropomórficos
de civilizações cuja ciência
não era progressista

obelisco
no meio da cidade
exu
no meio do mato
não existe diferença
alguma ou nenhuma
diferença entre esses dias
e os próximos que virão

só uma temperatura que se eleva

algo que chegou
e talvez vou esquecer
se não aprender outra vez

verão, a temperatura
antes a primavera
pela janela do ônibus
avisto os primeiros
abricós de macaco
que florescem no rio




sexta-feira, 26 de agosto de 2011

segura segura não deixa a peteca cair
não deixa a moeda cair
não deixa a lágrima cair
o riso sair em algum outro momento
inesperado o ataque e o conflito
diz se é assim mesmo que se disse
se a promessa sai
arremessada no mundo

o plano, o mapa, o canal

está lá escorrendo pela cidade
nublada de vez
soterrada talvez
formigas passeando achando que tá morta
de qual cidade estou falando
esta do trompete e do trombone
uma corneta sátira de quem ri
erupção
ebulição
emancipação
e o muito
e seus muitos
mitos

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Walter Benjamin




Três imagens


A fotografia (feita por Gisèle Freund), que queria passar intencionalmente pela pose todo o peso do corpo que não se sustenta, precisando da própria mão para apoiá-lo; o semelhante anjo de Dürer; e uma ilustração do corcundinha, personagem da literatura infantil alemã que passa a sensação de azar e intriga, e pelo qual Benjamin sentia-se (metaforicamente) perseguido.

domingo, 14 de agosto de 2011

o bolo




poemas do dia dos Pais

você que saiu para fazer cobranças
na Fortuna do Maranhão
saiba que eu estou te olhando
sentada no teu lado

me cutuque


*



Jeová
meu
pai

**

lugares tela paisagem
janela da camionete
abre o morcego, fecha o morcego
insetos batem no pára-brisa
nós escutamos Roberto Carlos e orações
eu falava das minhas lições de história
você contava a História da vida
sua, nossa, de todos os nossos
cemitérios na estrada
na direção do nascer e pôr do sol
pequenas montanhas, babaçuais
queria que dormíssemos ali um dia
inteiro de vida

queria ter agora em mãos
nosso álbum de retratos
com você ao nosso lado

Maranhão, 2010

***

sou o que sou o que
era menina
indo te buscar no seu telefonema
de um telefone que nem era nosso
eu ia te chamar, sonava
para a gente ir jantar em casa
foi minha mãe que mandou
e eu que fui porque quis
te encontrar








quarta-feira, 3 de agosto de 2011

olhando para os fatos
vejo neles algumas cores imperceptíveis
manifestas na expressão de um ato inaudível

naquele monte de folhas
a terra fria e úmida esconde quem se foi

o rio que passou naquele lugar
guardião de tempos concomitantes

aqui ou aí
estou só

às vezes expandindo em alguma interação
outras observando pela clausura da câmera escura

as plantas já cresceram
mas estão sendo cuidadas
os filhos também
e estão sendo soltos
aos poucos
o mato entremeia o que presta
e o que não presta
a sesta antecipa a noite
e acorda a tarde
a volta traz só lembranças

a volta traz

lembranças


até mais tarde