sábado, 12 de setembro de 2020

Astrônomo de jardim

astrônomo de jardim
olha a estrela esmaecer no céu matutino
desafiando o Sol com ternura e desatino
contempla o planeta da beleza guiando destinos

quer ver até que horas pode ver
no claro firmamento equatorial
Sol que torra peles e retinas
experimento sensorial
para quem se ilumina

faz-se criança outra vez para crescer
nos detalhes vê Deus que se aproxima
minúsculos seres dos três reinos escrutina

e a estrela observa sorrindo
por trás dos ares da claridade infinita



descendente

desce do céu uma linha ascendente

das células genitoras que se encontram de repente

multiplicam-se formando um corpo sem precedentes

no morno abismo se aposenta o ser


sangue 

que vai e vem no espaço visceral

não há explique o mistério do singular

não há mimeses que o represente


a alma chega e se assenta na flor nascente

tapete de flores servem para seus pés pisarem

sua boca para o fruto flor provar


todas as experiências ao alcance da matéria que aprende

que pisa na terra para recordar

enquanto crê em oráculos sorridentes


o futuro a ti pertence


*

enquanto socorre para atender o morto

esquece que sempre será espírito vidente

 

então

socorre a lembrança da criança

que ocupa somente seu presente

quinta-feira, 3 de setembro de 2020

redondezas

redondezas 
e não
arredores

quem gira ao redor da fonte
e não bebe a água?

há quem morre de sede

quem definha 
quem se automutila
quem se sabota

eu já vivi tudo isso e posso dizer 
a mim mesma
o que clareia a pupila 
e o que a embota