no lixo lavado na Baía de Guanabara
copos de guaravita
recipientes de limpeza
de detergente e de sabão
os banhistas chegaram cedo
agora fedem na estação
quinta-feira, 6 de março de 2014
algarismos do tempo
o último algarismo do ano último
que por força do hábito insiste
em aparecer
resiste
o passado novo
que por força do hábito insiste
em aparecer
resiste
o passado novo
∞
guarda na pele
a memória da doença
que só saberá depois
de passadas algumas décadas
mortes provocadas
por itens de beleza
por remédios
pelos sorrisos não dados
saberemos quando velhos
ou antes disso
no tarde demais
era cedo demais
ela era tão linda
com seu vestido e batom vermelhos
banzo
é possível estar lá e cá
não, alguns dizem
apenas um espaço é possível
de uma só vez
outros dizem, sim
por que não?
se o espaço sou eu
eu carrego o espaço comigo
e isso eu digo, é o banzo
é estar lá e cá
sem nenhum conflito ou
ser o próprio conflito
no aqui a lembrança é insular
e no lá também é
por uma fina passagem
estreito dos mosquitos
passagem entre praias
entre gritos entre mitos
rastros coloniais
do que sonhamos ter sido
franceses ou tamoios
vivido não vivido
o vento equatorial
assanhando em seu zumbido
o sol paralelo à testa
meus miolos franzidos
o raio do som do vizinho
do carro mala aberta
da rua grande alerta
perfurando os ouvidos
banzo é lembrar de tudo isso
sabendo que ainda é
carregando tudo isso
banzo é ser território
longe dele recriá-lo
é ser lembrança
com o tempero que for
a cor que for
quente ou fria
é tentar ser aqui
o que talvez nunca tenhamos sido lá
banzo é um repertencimento
uma reavaliação uma retaliação
que só a distância incita
apenas ela complica
nossos pontos cardeais
que só existem
porque só existe mudança
não, alguns dizem
apenas um espaço é possível
de uma só vez
outros dizem, sim
por que não?
se o espaço sou eu
eu carrego o espaço comigo
e isso eu digo, é o banzo
é estar lá e cá
sem nenhum conflito ou
ser o próprio conflito
no aqui a lembrança é insular
e no lá também é
por uma fina passagem
estreito dos mosquitos
passagem entre praias
entre gritos entre mitos
rastros coloniais
do que sonhamos ter sido
franceses ou tamoios
vivido não vivido
o vento equatorial
assanhando em seu zumbido
o sol paralelo à testa
meus miolos franzidos
o raio do som do vizinho
do carro mala aberta
da rua grande alerta
perfurando os ouvidos
banzo é lembrar de tudo isso
sabendo que ainda é
carregando tudo isso
banzo é ser território
longe dele recriá-lo
é ser lembrança
com o tempero que for
a cor que for
quente ou fria
é tentar ser aqui
o que talvez nunca tenhamos sido lá
banzo é um repertencimento
uma reavaliação uma retaliação
que só a distância incita
apenas ela complica
nossos pontos cardeais
que só existem
porque só existe mudança
∞
presente ausente
presente
Azulejos em Paquetá
2012
quarta-feira, 5 de março de 2014
escrita corpórea
tá tudo escrito no meu corpo
minha história e meus erros
minhas quedas no joelho, na canela, no braço, na boca
cai de boca no chão
chorei e perguntei
por que eu?
criança, eu
marcas da borracha do tempo
sem perspectivas
com alternativas
uma história cicatrizada
que insiste em lembrar
quando o esquecimento é limpeza
borrada com marcas celulares me pergunto
quem eu?
células se renovam
nosso corpo que é muitos durante a vida
e talvez apenas em sobrevida
me veja
sem história
com vida
minha história e meus erros
minhas quedas no joelho, na canela, no braço, na boca
cai de boca no chão
chorei e perguntei
por que eu?
criança, eu
marcas da borracha do tempo
sem perspectivas
com alternativas
uma história cicatrizada
que insiste em lembrar
quando o esquecimento é limpeza
borrada com marcas celulares me pergunto
quem eu?
células se renovam
nosso corpo que é muitos durante a vida
e talvez apenas em sobrevida
me veja
sem história
com vida
cri ar
é um grito
mas mais que isso
é um sopro
é ar
que ressoa
e chega a quem escuta
ou vê
a obra invisível
nunca escrita
jamais lida
mas mais que isso
é um sopro
é ar
que ressoa
e chega a quem escuta
ou vê
a obra invisível
nunca escrita
jamais lida
resposta
eu esperei a resposta
vir de Deus
vir do mundo
eu esperei
e a resposta veio
muda
velada
adulterada
criptografada
hackeada
pelo desejo de saber
vir de Deus
vir do mundo
eu esperei
e a resposta veio
muda
velada
adulterada
criptografada
hackeada
pelo desejo de saber
"pobre coitado"
"pobre coitado"
assim dizemos com pena
mesmo sendo ele
quem mais suporta
sua força
aguenta
deforma
fede
zomba
resiste
nu
preso no porte
antes que o dito forte
consiga retirar de vez sua vida
assim dizemos com pena
mesmo sendo ele
quem mais suporta
sua força
aguenta
deforma
fede
zomba
resiste
nu
preso no porte
antes que o dito forte
consiga retirar de vez sua vida
o toque
a intuição vem dizer
o que deveria fazer
a doença vem dizer
o que não deveria ter feito
ambas dão o toque
com sutileza ou efeito
lembrando que
quando achamos que controlamos
o imprevisível nos detém
mordisca nossas entranhas
o que deveria fazer
a doença vem dizer
o que não deveria ter feito
ambas dão o toque
com sutileza ou efeito
lembrando que
quando achamos que controlamos
o imprevisível nos detém
mordisca nossas entranhas
necrotério do turismo
pelo necrotério do turismo
a paisagem vira cifra
a beleza lixo
os pobres mortos
os mortos esquecidos
nos monumentos estilizados
a paisagem vira cifra
a beleza lixo
os pobres mortos
os mortos esquecidos
nos monumentos estilizados
sim, mucunã
mato perguntas negativas
com um sim
sim
sim
sim
mucunã
abre em mim
triângulo pandeiro violão
semente amuleto
da serra do sertão
com um sim
sim
sim
sim
mucunã
abre em mim
triângulo pandeiro violão
semente amuleto
da serra do sertão
borboletear
muitas coisas voando na cabeça
ziguezagueando feito borboleta
escrevendo em desenho uma interrogação
duas ou mais
nos ares do presente
metamorfose
concluir e não cumprir
para que pouse outros amigos alados
imago
ziguezagueando feito borboleta
escrevendo em desenho uma interrogação
duas ou mais
nos ares do presente
metamorfose
concluir e não cumprir
para que pouse outros amigos alados
imago
um poço
uma cidade pode mudar de lugar
mas não se pode mudar um poço
o poço é a sua água
o coaxar dos seus sapos
o furo negro que alcança profundezas
abismo, redondo, estreito, escuro, fértil
o poço tem água viva
e os homens vem beber dizendo
- estou no meu lugar
abissal
incolor inodora insípida
a solidão
mas não se pode mudar um poço
o poço é a sua água
o coaxar dos seus sapos
o furo negro que alcança profundezas
abismo, redondo, estreito, escuro, fértil
o poço tem água viva
e os homens vem beber dizendo
- estou no meu lugar
∞
abissal
incolor inodora insípida
a solidão
nuvens
há uma curva na paisagem
tão bela, por que não?
medo de errar
de ser inoportuno
rasga o tempo do agora
com suas possibilidades remotas
ou vistas pelo desejo alerta
é uma bela curva na passagem
só temos agora para escrever
para fazer essa foto
de uma luz com sua sombra
projetando cintilância
tão bela, por que não?
medo de errar
de ser inoportuno
rasga o tempo do agora
com suas possibilidades remotas
ou vistas pelo desejo alerta
é uma bela curva na passagem
só temos agora para escrever
para fazer essa foto
de uma luz com sua sombra
projetando cintilância
∞
é a serra que faz cócegas na nuvem
dedinho tic tic tic
uma criança nuvem
na lembrança da criança
seu dedo brincalhão
fazendo cócegas nas vontades
sinceras ou não
vistas em vão
escalar nuvens cada vez mais altas
astrais
onde paira a lua cheia
novo ciclo
novo ciclo
insisto em circular
nos escritos
insisto em circular
nos escritos
∞
uma ideia leva a outra
vemos aqui a superfície de inscrição
é favorável ter onde ir
uma ideia lava a outra
Assinar:
Postagens (Atom)