segunda-feira, 27 de junho de 2011

num acidente de carro
morreu um sonho na segunda
Adão, seu nome é
solo cultivável
e a terra é uma mulher receptiva
um útero fértil, mas não
o sangue desceu, passou pelas engrenagens
do carro obsoleto
corpo morreu, alguém, neste momento
acho que senti aqui
a morte de um plano
fechado no espaço
a morte é sempre um embaraço
morremos em fins de tarde
nas segundas-feiras
nos fins de férias
na emanação de passados
a morte é o verdadeiro tabu

como somos bobos

domingo, 19 de junho de 2011

No iso da noite

você tem espinhos de tucum na barba
eu na ponta dos dedos

fecho os olhos e vejo
mil pontas
eriçadas no iso da noite
nas asas de algum mito

neguinho já chega aloprando
daí ele deixa os dedos inchados
e a mente futucada
remosa
ninguém escapa da sua ponta

quem fala leva
espinho na língua

poucos fazem como tu
tucum

mensagem antiga

saíram pela porta, andando pro domingo
com pouca bagagem, nada nas costas

eu os vi partindo de longe, estático
raízes nascendo dos pés, por necessidade

o centro
é um caminho

já foi dia santo, hoje é domingo
já conversamos de tudo
você é bem diferente de mim
eu bem diferente de todos, iguais
trocadilho velho, regravado
em pedras imateriais, zerodimensão

ela nem me reconheceu,
é assim mesmo
somos para nós

quarta-feira, 15 de junho de 2011

O negativo da Lua

dia chega ao fim com alguns nãos

o eclipse no céu
não arrebatou tanta gente assim
na praça
fim de dia, as pessoas voam
quase entrechocando-se
às vezes até acontece
e se não fosse seu torpedo
seu dedo apontando
nem eu mesmo teria olho

mas bem que achei estranho
aquela nuvem forçosa
mancha gasosa e mansa
aqueles passos ligeiros
na calçada ecoando

eu parei
era uma sombra projetada
na cara da lua
na minha cara


recebo os nãos em fins de tarde
ligo o foda-se destilado
nessa noite bofeteada
nãos aos planos corridos
por vacilos e enganos

nãos celebram a glória
do que teria sido

nãos seguram as mãos
dos que os pronunciam

nãos, assim, que me tocam
alguns, outros nãos