quarta-feira, 29 de setembro de 2010

arquivos

vocês que me salvam

e eu não vos salvo

de vez em quando, eu escapo
do meu querer
eu perco
o que queria tanto para mim
meu espaço, minha memória

perco o mais importante
agora
o que é descaso
e o que é apego

na hora
que atentamos
para o apagamento
que já existia

e faz pouco tempo
nem tínhamos fotografia

domingo, 26 de setembro de 2010

a sensação magna
da mãe embalando
no seu colo
seu filho amado

que sensação é essa
que parece reunir
o mundo amado
num só colo

que Deus é esse
nosso pai e
nossa mãe
que nos trouxe ao mundo
para ser pai e mãe
Deus

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Estante de São Benedito


Estante de São Benedito. Cururupu-MA, 2009.
o chá inglês, indiano
substrato, iguaria
num embrulho
pra família
o vento esfumaçado
de foligem extrema
revestindo o interior
da garrafa, da bílis
da origem, do compasso

eu passo
por todos vocês, que não vão
caminhar por onde andarei
que não vão

levo vocês na mala
um dia
retribuindo o que vocês viram
e depositaram
nos meus sonhos

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

a opulência
das flores abrindo
na Lua Cheia

colo da mãe
que nos afaga

sempre partindo
porque sós

veremos

terça-feira, 21 de setembro de 2010

banzo de São Luís

Ponta do Bonfim, 2010



quem sabe, o tempo
é esse de fim de tarde
dos verdes lá longe,
na ponta
Bonfim
o local onde o Sol desvanece

e aquele clima parado
da maré,
dos paralelepípedos,
dos azulejos,
tudo caindo
mais uma vez

lepra do Bonfim

quem disse que o mal acabou?

ainda assim sinto saudades
da despretensão
de todo mundo
que se abraça e dança
nos seus conformes

até sinto alguma raiva
que passa
conforme
uma piedade
benévola

domingo, 19 de setembro de 2010

para Robson Diniz

quando batem as seis horas
tarde
domingo
não se sabe
se começa ou se finda
se apetece ou trinca
quaisquer lembranças
daquele que se foi

por seu querer
um espaço foi largado

no seu velório, consigo ver
uns abraçando aos outros
passando a força
para continuar

o que ele deixou
não foi um lugar

foi uma vida
um vaso trincado
na sua caída

(continuemos
por ele e por tantos)

***

Hoje, por rastros de discursos, pesâmes perdidos, a partida de alguém querido. Robson era maranhense, ator da companhia Tapete Criações Cênicas. A última vez que eu o vi foi no espetáculo Hotel Medea, apresentado no Rio de Janeiro em maio desse ano. Peço paz para a sua alma que agora flutua nos ares do universo.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

carne crua
comida
eu, apavorada, correndo
pela casa escura
descendo escada
caracol
enrrolada no pânico
expresso em uma feição
pura

que diabos está nesse couro
que me persegue feito um cão
faminto
canibal

...

No outro dia

quero sair ainda
pegando o que resta da luz
nas ruas

terça-feira, 14 de setembro de 2010

os aniversários

a idade
uma receita aberta
de miríades de órgãos
cansados e entrecobertos
pelo o que passa ou chega
alaga nossas lembranças
que amamos ou queremos nos livrar

servimos água para o beija-flor
dentro de uma falsa natureza
e ainda assim
ele chega
e nos alarga
com um canto
um clamor
que nem sabíamos que existia

domingo, 5 de setembro de 2010

um jarro que cai na cabeça
do transeunte
um desenho animado
que passa na tela
da janela
do ônibus
num segundo
se perde o enredo
do vendaval de setembro
o samba que chora
fatalidade

a morte sempre vem
indomável

sábado, 4 de setembro de 2010

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

a postura e a imagem
correta
a mostrar

pena, nós não nos permitimos mais
fazer uma careta contra o sol
ver o tempo passar
por aí
flanar, aqui dentro
parar e observar

o sinal luminoso na rua
um boulevard
e dois fluxos
na mesma direção