sexta-feira, 30 de abril de 2021

fim de mês

fim do mês
a tela já foi preenchida
pelo desenho de outrora
pela tinta vermelha dos corpos

o que estou entregando de mim
para os abutres
de bom grado

o que estou entregando de mim
doação

há distância
fiquei
da estética da existência
enquanto nascia outra vez
quão perto fiquei
ao estreitar largas lacunas

túmulos, poço, poças
refletindo céus
lagunas frescas e quentes
do inverno chuvoso sem chuvas

espero que supere logo aquela poda
que tudo isso valha a pena

fim de mês, olho para trás

terça-feira, 27 de abril de 2021

durmo cedo acordo cedo

durmo cedo acordo cedo
rezo pelos mortos antes de dormir
pelos vivos
acordo cedo 
depois de me entregar ao sono

como a terapia possível
a recarga de energia e fabulação

sonho com detalhes desta configuração
mas desperto sem saber o porquê
pois é assim que fazemos conosco
em tempos de clichês
inconscientes dos símbolos

o céu amanheceu lilás
e eu vi só pelo canto da janela
podendo ter adentrado nele inteirinho

sexta-feira, 9 de abril de 2021

poesia e sorte

volto mais uma vez à busca do brilho nos olhos
depois de dias a fio empenhada em ouvir
uma vontade de criar e concluir
noite não resta para tanto dia
que me consome 
até a última gota do meu leite

sei que não está fácil pra ti
nem pra ele nem pra ela
mesmo que alguém se iluda que estamos separados
desfrutando inconsequentemente
o encontro no cassino
no miolo da roleta 

há tanto e tanto de nós
naquele canto abandonado
mas não há como dispor
nossas memórias 
do medo 
da morte

óleos besuntam nossa pele ainda viva
com aromas de poesia e sorte