terça-feira, 24 de setembro de 2013

vulnerável

precisava mesmo dessa situação
pra experimentar
total vulnerabilidade

cair o chão
e assombrar minhas sombras

precisava mesmo
transbordar minhas bordas




sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Inhotim

como
o som da terra
pode ser
arte contemporânea

*

popular
arte contemporânea

*

o som da terra é o som do espaço
intervalo tantos metros abaixo
microfones

*

slogan

Brasil
Um país de todos
País rico é país em pobreza

Em Inhotim

*


os cavalos de Paquetá

dizem que vão acabar com as charretes da ilha
os cavalos estão magros e doentes
nem são cavalos

já pegamos a ferradura
que caiu na praia da moreninha

denúncia de vizinho
problema na medula
eutanásia

senhores sentados nas charretes
para onde vão
os cavalos


fato

de fato
onde está o seu tesouro
aí estará o seu coração

bebê

um bebezinho dura tão pouco
três ou seis meses, talvez

aquele que a mãe enrola num paninho
aquele que some rápido
aquele que é só lembrança
ou uma foto, depois

um bebê dura tão pouco
resta a criança que se comunica
o adulto que fecha os olhos

os olhos de súplica do bebê
some diante do mundo

só em certas ocasiões retoma
nessas não há mais a mãe

terça-feira, 17 de setembro de 2013

à saber

o que eu sei é bem pouquinho
o que eu sei é pequenino
o que eu sei vai morrer

daqui à pouco
com o que eu sou

o que eu sei
esqueci
pois tô morrendo agora mesmo

mangueira

das flores da mangueira
brotam pequenas esmeraldas
venho vendo
e ouvi
o primeiro canto de pássaro na madrugada

uma única e isolada nota
enquanto as manguinhas cresciam
diante dos homens incrédulos

*

teus olhos de presa capturada
pelo meu olhar
que jamais se ausenta
mesmo ferido ou lacrado

domingo, 8 de setembro de 2013

passeio São Luís

Bueiro

a água merda do bueiro
da praia grande
sai pela boca
do grito da cracolância
vizinha do convento das mercês

sem pudor
alguém se banha
lava sua roupa ali
de onde avista
o sol se por

ponta do bom fim






Tombo


a ponta da ponta d'areia
virou península

golpe de marketing
quebra mar

merda de rico na baía



Olhar cidade

eu quero é olhar pro lado
ver o que está
movimento rua vazia
a cruz da casa da festa
luz úmida âmbar

os caixões e os cultos
aquela rua das casas dos militares
com seus enfeites de natal
com o guardinha na porta
antes de virar
pro São Marçal

com seu olhar penoso
uma mão pedindo
outra segurando o cajado

assim é
o meio fio todo quebrado
pintado de branco cal
minhas palavras nesse meio fio

a rua com um poste de luz de um lado
e um poste de câmera de outro
minhas palavras quebradas
minha amiga que vigia as câmeras

cada dia mais longe do perto
por um fio


Canto cagado

canto cagado da ágora do Odylo
canto cagado da vida
canto cagado da festa
canto cagado da rua
canto mijado
canto pichado
canto liberdade
canto anarquia
canto despacho
canto




terça-feira, 3 de setembro de 2013