quarta-feira, 30 de março de 2011

o mundo tem seu tempo
nós temos nosso tempo
quando encontrar o tempo em comum?

a cúpula dos loucos

um incêndio destruiu a praia vermelha
seus cristais de areia
viraram brasas para eles soprarem
nos olhos de bombeiros 
e de alunos distraídos com o passado

seus descendentes com certeza
sentiram mesmo trancafiados
o calor dos seus ancestrais insanos
sentados no topo
juntos com as estátuas 

no teto da capela
onde seus corpos nunca rezaram
eles espreitavam a movimentação
o caos da segunda-feira

domingo, 27 de março de 2011

Favoritos

um filho
muda os passos do homem
pois com suas pequeninas pernas
impõe o ritmo das quimeras

um filho
prematuro
tão miúdo
mas que segurou o dedo do pai
reconhecendo sua voz desafinada
que ele escutava em sua órbita aquática

filhos crescem
com o pai longe ou perto

filhos são do mundo
e no fundo, no fundo
o pai aprende a lição

sábado, 19 de março de 2011

supermoon

quero ver as grávidas
dançando hoje
com seus fetos flutuando
na água da lua

elas pisarão no solo
eles baterão no couro
de animais mortos

que ressuscitarão na lança
de São Jorge

logradas as pupilas dilatadas
dos cegos
que sem dúvida
hoje verão
enquanto muitos estarão dormindo

festas vem esgarçar a noite
e amanhã é domingo
para cair em camas
e descansar

quinta-feira, 17 de março de 2011

fujo das polêmicas
numa corrida alvoroçada

fujo de alguns olhares
de certos sábios

decerto fujo
com ou sem honra
dependendo do caso

fujo pro lado
esquiva de bicho
sem rabo

terça-feira, 15 de março de 2011

suspense


viemos
não aparecemos
nem ficaremos
parados

arados
já moveram a terra
hoje ordens indiretas
por nós emanadas

existimos na carne
e na nossa imagem

carne essa apodrecerá
na química dos micróbios
seremos ativos

seguindo o silêncio

minerais, suspense

quarta-feira, 9 de março de 2011

Como voltar andar
depois de cinco dias
sambando?

Quarta de cinzas
da fênix sorrindo
Ave bambas!

segunda-feira, 7 de março de 2011

carnaval

essa festa sempre teve a pretensão
de fazer sumir
de suspender
tanta pressão
de séculos
em alguns dias

mas os batuques daqui
ressuscitam velhos e velhas
que aparecem na forma de pretinhos

nos arcos da Lapa
uma me ofertou uma lantejoula
baculejando com um olhar
qualquer coisa na sua altura

à altura dos bolsos

terça-feira, 1 de março de 2011

Em/sobre/com Sampa

1.

A poesia
é o refúgio
para pensamentos vãos
não se sentirem
tão banais assim

esperando
pelo o que aguardamos de nós, enfim

a meta-
existência


2.

rua
reta
laterais
certas

invenções arquitetônicas
o que elas quebram?


homens andam com os olhos no que queriam
e se assustam com qualquer abordagem


é o bom dia
é a polida passagem

esse povo que nem sabe mais
bater palmas
muito menos

fugir
do seu setor


não se misturam

concreta
sua estrutura

nunca vi o caminho ser uma linha reta
quem foi o homem
que colocou pela primeira vez
o lapis na mão
alquímica

-quem foi essa fêmea
inconstante-

quem é esse traço irremediado
preso na mente
solto o braço
um soco escrita
é a história que passa

lógico que o rei sabe quem ele é