quinta-feira, 5 de junho de 2025

ia

biodiversidade vira uma imagem
gerada por IA
ia ser outra coisa
que não natureza
uma placa nos alerta

pixelada paisagem

nas telas
quais imagens eu imaginei
quais eu desejo 
sem que ninguém veja

me enganei
sendo vista por muitas imagens

rubras têmporas do tempo
pixelada paisagem


sumiço

aquele brinquedo velho
que ainda há pouco tempo era vivo
voltou a ser inerte
ser
transição

irei te informar dos itens que sumirão

antes do dia
que brincaremos ambas
por todas as direções

desapareceremos
nem percebi o apreço que tinha
por aquela roupa velha
presa demais à convenção

domingo, 25 de maio de 2025

corolário

no desembrulhar do querer
altivo encontro marcado 

à outiva
noite esconde 
o caminho sem volta

a leveza de apaixonar-se 
pelo o que ainda não se viu

não há pistas de onde foi deixado
de lado

ou se caiu 
ou se animicamente se escondeu

se guardado em gavetas 
empoeiradas pelo o que veio sem avisar

se no improvável arremessar de sapatos
em fios de alta tensão

em toda sorte de brincadeiras sem muito sentido

um flerte flecha projetada 
na direção do outro
prospectado
quando só 
queria
se entender




terça-feira, 20 de maio de 2025

Pacha

vejo a varanda
tu não estás
vejo na lembrança
vazio restante
aperto constante
no meu peito enlutado

terra come teu corpo neste instante

língua que assinalava
músculos que corriam
olhos que confirmavam
comunicação do espírito

que se foi no último hálito
mandíbula totalmente aberta
depois de completamente travada

lá se foi teu espírito
na tua última pulsação
que senti se despedindo 
da minha mão que apoiava 
o teu peito debilitado

queria uma confirmação
tive com a parada
estou tendo nos dias que passam
como canção arrastada

que toca na caixa 
com o vazio dos cantos da casa
que deságua no córrego ao lado

onde banhaste pela última vez
repousando teu corpo murcho 
na lama no fundo depositada
das últimas águas 
do teu verão chuvoso

quinta-feira, 24 de abril de 2025

a incerteza desfaz expectativas
como papel da carta longamente escrita
jogada na água corrente
desfaz mole as letras pequenas
carregada de sentidos densos
sentimentos extensos 
cada pedacinho escorre em direção perdida

sem que ninguém a visse
a carta chegou a destinatários 
completamente selada pelos musgos da beira

e as folhas lama decompostas do fundo
cheiro de peixe em cada pedaço

domingo, 25 de agosto de 2024

te deixo dormir

te deixo dormir um sono bom
até mais tarde, quantas vezes eu
tantas vezes eu
agora te deixo dormir até mais tarde
aproveito o Sol nascer à vontade
ao som de sons de galos, madrugares
acordar como se fosse fim de tarde
sensação estranha sem alarde
amanhece anoitece
desconexão por toda parte
ares turvos, já olhaste
nos roubaram nosso azul
em troca de migalhas
películas de asfalto 
fracasso progresso
promessas vulgares
tudo em alarde por toda parte
e te vejo dormir num sono bom

segunda-feira, 29 de julho de 2024

chama sorridente

chama sorridente
queimou por tantos dias
e noites

deixa queimar

pavio afogou-se na cera da última vez

incendiar-se
autocombustão
pavio longo
labaredas sorridentes
curto pavio
escrita com lápis desapontados 
pavios afogados
irradiação ri
cera chorosa
gargalhadas de salamandras
convites à auto-observação
no meio do furacão

no meio do furacão
há o coração do céu
em torno do qual toda criação gira
sorridente




sábado, 6 de julho de 2024

respeitar os sinais

senti-me completamente sem chão
quando não me lembrei dos sonhos das noites anteriores
ainda que me perseguissem 
com vago sabor de mensagens 
escritas com letras que não existem
por punhos não alfabetizados

mesmo sem pretensão de decifrar 
aguardo suas advertências 
advindas dos rincões da alma
fazendo-se perceber por tiras de expectativas
que balançam ao vento da calma
nas fronhas, na cama
nas conversas emotivas do amanhecer

converso com quem escreve a trama
e lhe digo: te aguardo chegar esta noite 


sábado, 1 de junho de 2024

de compor

abraçar o estranhamento com a ternura e a dúvida se entrelaçando
 
pegadas da luz
manchas nas lentes
brotos das estações
prospecções catastróficas

o mar cobrirá toda essa areia

outra vez?

nosso futuro banhado em sal viajante
e água de chuva

resíduos de protetor solar



segunda-feira, 6 de maio de 2024

Anuns

secam suas penas azuladas ao Sol
disputam galhos verdes trêmulos
fazem ninhos no Ariri a cada estação sua
jogam sem apego seus ninhos velhos fora
fazem novos ninhos com gravetos secos
comunicam-se com sons indecifráveis aos não xamãs
comem bichinhos, voam rasante, divertem-se em bando
são mansos com cara de bravos
são eles que nos recepcionaram aqui
anuns


quinta-feira, 2 de maio de 2024

Riacho Anil

para tudo
ninguém passa aqui além das minhas águas
vocês sentirão meu odor bem de perto
ninguém passa aqui além do fluxo da enchente
gente não passa de carro, nem de moto
gente
talvez a nado
mas que nada
sei que vocês têm nojo de mim

ri
acho 

porque sempre haverá quem me atravesse
quem adentre nas minhas águas

nossas águas
pois eu sou vocês, cidade
verão chuvoso vem relembrar

domingo, 21 de abril de 2024

Maiobinha

Maiobinha, 

Neste dia de Sol penso e vejo, do leito do teu rio, cercada de tua mata de juçara, como tuas águas só gostariam de ser a pureza e a fluidez das fontes de onde vens. Que gostarias de banhar peles e animar brincadeiras n'água. Que achas aquelas retroescavadeiras barulhentas e violentas, elas que abrem tuas margens para não alagar - tanto - a estrada de Ribamar em dias e noites de chuvas torrenciais. Quando passo por ti escuto uma voz; por isso quis chegar mais perto e fazer/trazer uma imagem.

sábado, 13 de abril de 2024

trocou de pele
incômodo, esforço
fraqueza,  desconforto
falta força para sambar
para escalar paredes urbanas
muralhas intransponíveis
e tantas que de tornam transponíveis
falta força para dançar o tambor
é preciso buscá-la nas entranhas da terra
prenhe se sonhos recebidos de todos os batuques
apara curar uma doença 
que só o tempo contaminado pelo capital
poderia fazer tão cruel e insensível
aquela rede de eletricidade 
que cai por cima dos nossos corpos
não mata, mas nos transpassa


terça-feira, 9 de abril de 2024

expor a dor

com um alfinete singelo
drapear as vestes
para expor a dor
mostrar a peste
a lágrima e o sangue 
incontestes
de que adianta
o nó na garganta
ou palavras estéreis




sábado, 16 de março de 2024

Rio São João

Rio São João
pista ponte estreita
Rio transborda
chuvoso verão

transborda a lembrança
de quando ali banhávamos 
antes que passasse
cabos de alta tensão 

verde nublado
por onde escorrem todas as águas
dali, rumo ao baixão 

Rio ri de nós
na alagação
no tempo parado

engarrafamento na estrada
de Ribamar

Rio abaixo do asfalto traz
mensagem da inundação


quinta-feira, 7 de março de 2024

na casa à venda
há tanto tempo
à venda
abandonada
a tenda
de quem não tem teto

o primeiro que se levou
o telhado
levado ao sopro de quem precisa dele
telha por telha
portas e janelas
madeiras aproveitáveis

casa construída por tantos anos
a fio
um sonho materializado
em ruína
tão rápido
matéria de desprendimento

quarta-feira, 6 de março de 2024

lastro

eu estarei te aguardando na superfície
não abrirei os olhos debaixo d'água

conforme tu me ensinaste
tudo será impresso conforme a vontade enviada

com aquele fundo que me toca
os pés submersos
no frio da correnteza

um ato nunca é só um ato

lança dados, dardos, fardos, laços

fornecem o lastro para se manter em equilíbrio

ainda que entre um estado e outro
se caia de novo num outro mesmo vacilo

domingo, 25 de fevereiro de 2024

peixes mágicos

a casa lembra uma igreja
um velho cuida de crianças
e lá contém ritos iniciados por epígrafes

peixes mágicos passam sob nossos pés
num chão transparente

não são peixes de comer
são feitos d'água

uma enganação de monstros safos
para quem quiser mergulhar n'outros mundos

peixes luminosos
vêm das profundezas dos oceanos
onde também habitam peixes monstruosos

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

tirei um fino

tirei um fino
de uma moto à direita
debaixo do viaduto
carro invasor de macho opressor
de uma mãe com um bebê
na calçada estreita que virou rua
transbordou
vamos percorrendo sustos
e quase mortes 
indo rápido pela direita
à esquerda alguém curte a paisagem
voos de guarás no mangue
estava com pressa demais para ser triscado pela lentidão
ultrapasso pela esquerda 
que está aberta às possibilidades de fuga


segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024

re cap tu lar

mangueira podada
corre vento abaixo dela
e a luz adentra
mais confiante de sua missão

galhos pesam tanto
 de tão sobrecarregados
nem parecem com a doçura
que carregam em suas pontas

uma poda é suficiente 
por ora
não se apeguem aos frutos
quem nem tiveram a chance
de amadurecer

talvez caíssem
com a força implacável 
de um vendaval
em chuva violenta de verão

domingo, 21 de janeiro de 2024

rasteira

o que eu perdi
já se foi
junto com a onda do mar
as miçangas awá guajá
naquilo que deixou de ser
na porta que se fechou
no limite do horário
do eu queria ter visto

não me arrependo
mas sinto um tanto
nenhum imprevisto
é mesmo um tanto 
desconcertante
levar rasteira de si




sábado, 20 de janeiro de 2024

come pulando

a beleza do urubu
secando as asas ao Sol
no topo do poste 
nas árvores molhadas
no toco da cerca
no lixo avolumado

come pulando, voa, briga
depois da chuva se arrisca
desafia nosso olho 
a ver beleza na sua soberania

terça-feira, 2 de janeiro de 2024

veredas

não há estranhamento que resista 
ao longo caminho percorrido
tantas vezes escorrido
no vem e vai das veredas
esburacadas e com curvas íngremes
que nos levam até nosso querer

o que parecia tão longe
vem ficando bem pertinho
a volta que é sempre mais curta
ainda que feita devagarinho

já vimos aquela palmeira sorrindo
antes de vir 
ver 
de novo
nosso inconsútil regresso ao ninho

sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

Aguadeiro

antes mesmo de chover
das profundezas da terra
brotam os tajás de todos os tipos

antes do ano findar 
o axixá tinge de vermelho 
o céu azul sem nuvens

cai no chão suas flores secas
que assumem todas as formas
olhos, sonhos, borboletas

reino vegetal que implora
para prosperar nas sementes
que caem no chão seco

um futuro aguadeiro

antes da primeira chuva
dezembro nubla todas as manhãs
pincela a correria de fim de ano
na melancolia do fim do mundo

terça-feira, 12 de dezembro de 2023

prazer

sem aditivos
nem impulsionadores
nem desvios, com riscos
nem usurpadores

nada de assaltantes de cronos
muito menos de sequestradores de kairós

a volta plácida 
ao lugar onde nada acontece do nada

sem realçadores de sabor
nem moduladores de humor
menos ainda aqueles desvios frequentes de rota
vai e volta

na marcação invisível
no ar, plana uma gaivota
insano, a quem diria
sem consumo insano, eu diria

insípido, lá longe
se percebe algo
furtivo encontro com seres monstruosos
que nada mais são que abjetas facetas do nosso prazer



Casa de Praia

casa de praia
tem ruídos de ondas nas paredes
e areia que cola na sola dos pés

maresia nas maçanetas
que abrem portas para as profundezas

vai e vem
ultra mar
outras línguas
viagens, malas perdidas
encontros furtivos
desnorteia de norte a sul
de oeste a leste
des sul teia

caímos em conexões improváveis
aversão e atração
que vem de longe
meta a meta no último vagão
mande de volta pro nação da exploração

"que se exploda" 

mas na terra fértil não há separação

quebra mar
e a areia invade a praia
na Ponta d'Areia

história borrada

a caneta é com que escrevo

minha história
com a ponta rachada ao cair no chão
escorre a tinta e tudo borra

já se foram os intrusos 
agora
a água dissolve o que tanto custou elaborar
outrora

e aquilo que não rabisquei
me persegue de forma sonora

esqueci o trocadilho

poemas esquecidos
tem gosto de sonhos não lembrados

não adianta forçar
eles vêm em epifania

ponte

no branco da crista da onda
às duas da tarde
visto de cima da ponte

onde está o verso que se esconde?

o branco cega
visto de cima
sem dó nem escrúpulos
anima

maré cheia
daqui a pouco vaza
aguarda logo a sombra rigorosa
vir puxar o pé

enquanto se dorme
há quem cruze
a Bandeira Tribuzi
e que reze ao cruzar
a do São Francisco

o medo não atrasa
fica sobre aviso
impresso no frio da barriga

quinta-feira, 2 de novembro de 2023

lençol luto

a tela acende
dela surge uma criança inocente
sendo retirada de escombros

cinza
sem vida
é a paisagem
é o corpo
a medida
a contagem

menos de um mês 
milhares
quase não vemos sangue
das pequeninas
o pó cobre a pele
chega até nos
o matar
o deixar morrer

viver não é rotina em tempos de guerra
digo teu nome em prece
Palestina

todos os lençóis que cobrem tuas peles infantes
encharcam-se das lágrimas de quem pariu
um futuro que não será

sexta-feira, 14 de julho de 2023

flepa

saio de casa para encontrar 
o desencontro que me fez ser

aquela distância singular
de cara com a pluralidade

erros e tropeços
trajetos e trejeitos

analisei de perto 
aquela flepa minúscula 
alojada no canto direito 
das palavras vacilantes pronunciadas

tentei arrancá-la

ficou um pedaço insistente

tenho que me acostumar com ele
até que seja absorvido 
como parte de minha carne

segunda-feira, 5 de junho de 2023

lua avista

lua redonda sobe 
enquadrada pela janela sem grade

antes de sumir pela brecha
conta histórias de todos os povos descalços
que a fitaram de um modo puro
sem intermediários
sem mídias nem destinatários

transferência de ondas luminosas 
de mensagens oraculares
testemunha ocular de todas as eras

é a lua quem nos vê


segunda-feira, 1 de maio de 2023

do miolo de uma dor profunda
lágrimas jorram e inundam a terra
úmido escuro húmus
dor desgaste fissura

é preciso falar dela
de alto auto tom
nem mal nem bom
perspectivas iluminadas pela lâmpada da sala de exame 

enxame de vespas com veneno 
que nos derruba acidentalmente

não há o que fazer
além de fazer o inadiável

só há esse solo agora para cair 
antes que retornemos a ele

há beleza antes da dor profunda

sábado, 25 de março de 2023

planta suspensa

mesmo com tanta chuva caindo do céu
transbordando galerias

fazendo ver rios soterrados e ressentidos 
da ingratidão dos homens que ali bebiam

e ao mesmo tempo incontroláveis
a lograr seu rumo pressentido

mesmo com raios que tremem paredes e carnes
que abalam nossas estruturas 
e assustam o que seriam noites calmas

vento e tempestade
pulverizando gotas 

mesmo com toda umidade
aquelas plantas suspensas na varanda
aguardam nossa boa vontade

de molhá-las como se molha
uma faceta esquecida 
de nossa integridade


sábado, 21 de janeiro de 2023

velar ano novo

não confundir
abundância com desperdício 
ou futilidade

superando o trauma da escassez
sinto-me a vontade para rever que
abundância não é exagero

ao contrário

é contentamento 
e autorresponsabilidade

abundantemente me resguardo
no velar-me que alumia
o instante no qual transbordo

sábado, 31 de dezembro de 2022

por um triz

flor se abre enfiada na folha
rasga em desabrochar

abelhas trabalham 
na colmeia esculpida
na palha do babaçu
prestes a desabar

por um triz

sobrevivemos sem ferroadas 

pra aguardar o rasgo inteirar



sábado, 24 de dezembro de 2022

dê grau

três lances de escada desabaram
e de baixo olhávamos para o topo
pensando naquelas que por lá passaram

e no vôo que faríamos para subir
sem degrau, sem asa, sem motor

o movimento é de dor
dos músculos enrijecidos

mas o alcance é de outro sabor

no impulso escondido
o prazer do desconhecido

sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

profecias infantis

tudo começa com a intenção
de dar uma flor colhida no jardim
e mais uma
e mais uma
até um balaio colorido se formar
servindo-nos de abrigo

quarta-feira, 30 de novembro de 2022

atrás do arbusto

corro no campo aberto
sorriso de criança ambienta o espaço

onça esturra
corro, paro

pausa pra repousar
porque demanda não para

estado alerta cansa, para

sorriso de criança paira no ar delgado

pausa no movimento 
escondido atrás do arbusto

segunda-feira, 16 de maio de 2022

Flor Diana

colheita de flores para um bolo de terra
parabéns pro bode, pro boi, pro brinquedo

objeto de transição 

há muito mais ingredientes
que transbordam o copo da matéria

rumo a outra direção

for do dia
Dia na
tua essência 

onde habita um perfume 
do brincar com o molhado chão 
e com as pétalas que seduzem insetos
para adentrar no estigma irreversível 
do desabrochar


quarta-feira, 11 de maio de 2022

isolar

há uma solidão tão escura
na parada
corpo retorcido 
na árvore mutilada
frio na espinha
na espreita 
na virada

não vem me dizer
que é viagem 
da minha cabeça

só eu sei a percepção
de quem se encontra isolada

quarta-feira, 16 de março de 2022

frenesi

o vazio nos olhos de quem tudo tem

cheios e transbordantes os de quem soube criar

ao longo de anos
a velhice veio em rugas profundas
não para parar o corpo redefinido
reforça o que deixou pro mundo
rumo ao ancestralizar

a dança, a voz e os instrumentos
que me entregam a carta com a descoberta
vinda em sonhos

contados aos anciãos pela manhã

o vigor não mora nos olhos dos mortos ainda em vida

aloja-se nos músculos que mesmo cansados
ainda se jogam no frenesi


terça-feira, 8 de março de 2022

travo trevo

o poder das associações
perigosas e salutares

travo uma batalha
para ser feliz 
e livre

por um instante apenas

flutuante som do perigo que chega

o hibisco que se abre mais tarde
em dias de chuva

a guerra e a paz acontecem 
agora mesmo

folhas caem da planta retirada 
sobre outra planta

é preciso salvá-la

é preciso nos salvar

alquimias envolvem o som do vento 
e a paisagem
e a brasa que resta
queima tanto quanto fogo

sexta-feira, 4 de março de 2022

sequestro

vou contar pra mim mesma
uma história pra eu dormir

buscando a justificativa das minhas escolhas
vou para longe 
e lá não posso me refugiar

por um instante apenas
silencio
esperando ter de volta
meu tempo perdido

já era
agora sou mãe

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

d(o)a(r)

cuidar é doar
tempo, espaço, presença

tudo foi ocupado
inteira e intensamente
por essa parte de mim 

outro ser

rachando irreversivelmente
a solidez do meu eu

há horas que não gostaria
de ter que me preocupar
de me entregar
à realidade que eu mesma escolhi
depois de muito pensar

mas pensar não é sentir
e a realidade não é plano

procuro uma brecha pra ser
além do ser vir
e logo escuto um choro infantil
que irrompe como um vulcão adormecido 

se vem de dentro ou de fora
ainda preciso descobrir

cuidar é doar, é doer, é sorrir

ambivalência
abnegação 
ação


quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

fora de rota

cabeça presa nos detalhes 
que não saíram 
como se queria

acidentes de percurso
nas mudanças de rota
manchas, oxidações, quebrados

na matéria se perde tempo
no pensar

deixe estar
pra ser ali

há beleza nas alterações

contentamento é o que é preciso

seja qual for a circunstância
decepção, pra quê...

domingo, 30 de janeiro de 2022

casa espiritual

na sala da casa
rodeada de flores
plantas, pássaros e luz

solar

muitas rotações implicadas 
nesse agora
aqui cheguei e o que isso significa

silêncio
a casa é espiritual
tudo acontece do jeito que é

assim é



sábado, 29 de janeiro de 2022

arte de viver

arte de viver
escrito na porta
lembrança da missão
de ser bonita
inteira
entrega
viva
morta
transição
semeada horta
nem sempre brota
vitória
derrota
transformação

tamarineiro

nos abrigamos na tua sombra
da chuva e do Sol

íman de crianças
que buscam pelas frutas no chão

degladiam com gravetos
nobre adversários invisíveis

das frutas podres
brotam pequenas árvores
desenrolando a semente
em pequeno galho
onde anuns poderão pousar