quinta-feira, 6 de março de 2014

banzo

é possível estar lá e cá
não, alguns dizem
apenas um espaço é possível
de uma só vez

outros dizem, sim
por que não?
se o espaço sou eu
eu carrego o espaço comigo

e isso eu digo, é o banzo
é estar lá e cá
sem nenhum conflito ou
ser o próprio conflito

no aqui a lembrança é insular
e no lá também é
por uma fina passagem
estreito dos mosquitos
passagem entre praias
entre gritos entre mitos
rastros coloniais
do que sonhamos ter sido
franceses ou tamoios
vivido não vivido
o vento equatorial
assanhando em seu zumbido
o sol paralelo à testa
meus miolos franzidos
o raio do som do vizinho
do carro mala aberta
da rua grande alerta
perfurando os ouvidos

banzo é lembrar de tudo isso
sabendo que ainda é
carregando tudo isso

banzo é ser território
longe dele recriá-lo
é ser lembrança
com o tempero que for
a cor que for
quente ou fria

é tentar ser aqui
o que talvez nunca tenhamos sido lá
banzo é um repertencimento
uma reavaliação uma retaliação
que só a distância incita
apenas ela complica
nossos pontos cardeais
que só existem
porque só existe mudança


presente ausente
presente 
lembrança









Azulejos em Paquetá

2012

Nenhum comentário: