quinta-feira, 28 de junho de 2012

corredor matinal

eu acordo escutando você passando no corredor ao lado

você bate na janela e eu acordo
eu acordo, é hora de trabalhar
eu acordo e você não está aqui

eu preciso passar essa página
pra poder ver
o que há de ver

no outro lado da calçada

um quarto retangular
estreito e comprido
não é mais pra mim







segunda-feira, 25 de junho de 2012

Ressaca

chuva torrencial
e vieram pelas bocas de rio
tudo o que nossas bocas não consomem
e mais o próprio rio com suas plantas e cobras

enrroladas em copos, sacos, baldes, cadeiras
tênis, raquete, televisões, sofás e monitores
e toda sorte de embalagem
que não envolvem mais nada


um sambaqui, agora epitelial, daquilo que somos bem
lixo

que vem pela maré, pelo vento forte e chega aqui
atrapalhando o sábado do turista

lembrando do que sempre esteve ali
do outro lado da baía

lembrando o cão doméstico
que ele gosta é de carniça

chamando os urubus
e os garis
para uma conferência sobre a limpeza
e sujeira humana



***





quarta-feira, 20 de junho de 2012

lameirão


tempo morto
maré baixa
lameirão

uma mureta que segue o muro desta casa

e dá onde?

praia que segue o mesmo muro
monolitos que observam as mesmas montanhas
tempo morto
sambaqui
objeto
cacho de banana podre

pegadas
volta

era só um quarteirão
mas dentro dela se via
escondido pelo portão
a porta desse tempo

morto

conservado no limo
que cobre a calçada

versos da coreira


PELA GRAÇA DE SÃO BENEDITO
 PROTEGIDO PELO ROSÁRIO DE MARIA
 SACRAMENTO DE SANTO ANTÔNIO
 BERÇÃO DE SÃO JOÃO
 PELOS GRITOS DO CAGERÊ DE SÃO PEDRO
E SOL RAIANDO
PARA TOMAR UM CALDO DE PEIXE PEDRA
REFORÇO DAS ENERGIAS PARA SÃO MARÇAL
COM OS OLHOS DOIDO DAS NOITE DE BRINCAR BUMBA BOI
NÃO É DE PRIMEIRO E NEM DE SEGUNDA
E CANTAR E BRINCAR BOI COMO ELE É....
 PELOS VOTOS DA GRAÇA PROFANO NO SAGRADA DA ALEGRIA DE SER
DE ALMA E CARNE LUDOVICENTE

BJS SEJA BEM VINDA.

___
*Versos de Rosenilde Rodrigues Ferreira, mais conhecida como Rose Coreira, que traz a essência do momento junino na ilha de São Luís do Maranhão.

sábado, 9 de junho de 2012

O+ + A+  = +

sonho com meu irmão

cadê você, hermano?
com seu carro pequenino
de três partes azuis
compartimentos igualdade
cada degrau de uma respiração sufocada

sabe, hermano, eu tô morando onde o pouco está
e nem é o que a palavra parece indicar
pacas, como as do avô
muitas, a andar
a nadar, a baía não é mais a mesma
de quatro séculos atrás

hermano, blues, queria te abraçar
mas acordei um tanto sufocada
com o pescoço no braço enrrolado

cordão

acho que preciso vomitar

sabe-se lá


uma alternativa no campo dos sentidos
lama é poeira molhada após a chuva
tipo o instantâneo no seu continuum
lavando o sensor, poeira no negativo
papel, metal, folha fotossensível
uma mangueira com folhas que serão mangas

quem vem
pra estes solos
quando chove?

quem procura
um abrigo
debaixo da amendoeira?

uma mulher que chega
segurando seu vestido
um choro engasgado
seu abrigo

segunda-feira, 4 de junho de 2012

segure do jeito que for
a mão amiga

encoste apenas
a mão aberta
logo obriga

uma resposta rápida
uma fuga tardia

quem vai estar
do lado de lá
quando a mão formiga

uma nuvem de muriçocas
na cabeça do inocente
e dentro dela apenas
uma única alternativa

só há um modo de escapar de si mesmo



domingo, 3 de junho de 2012

arte$



similares entre si
fechadas em lares
abertas na rede
clausura das células
cédulas em série
com muito valor
embutido

*


arte sensorial
no pedestal da galeria
com um corcunda atrás
falando o que é
arte sensorial


da terapia ao center

dos pacientes aos clientes
do gesto aos objetos vazios

de gente ao plástico