sábado, 4 de janeiro de 2014

espaço velho ex passo novo

numa duna de areia molhada
choveu e ninguém viu nada
nela, uma cabana de teto de palha
nela, um urubu adianta o olhar sobre nós

vimos o lixo no mar do ano novo
ele viu nossa carne morta viva
água escura no mar que era claro
só vimos porque desejamos mergulhar
se não, o contrário, rosto virado

e é claro
o mar é o mesmo daquele que é turvo
do mangue do norte ou das correntes frias
do putrefato condomínio zona sul
de um lugar dito civilizado

ontem a noite
pedalando entre cidades do mundo velho
constatei e vi

por lá tudo já desmoronou
cidades memórias por onde nos perdemos
por onde já perdemos
e se queremos ser como elas
digo que já já conseguiremos
no tempo mal medido da ultrapassagem
o caminhão do agora atropela o que seremos

calor escorre pela nossa virilha
sabemos que fodemos o espaço
estamos rindo de desespero
comprando décimos presentes terceiros
quentes ofertas parceladas no frescor do ar condicionado
e é quente o sangue que escorre do preso decapitado
vira fogo vira bala
vira nosso medo da barbárie
que não queremos acreditar
que já vivemos
já que vivemos
é quente e pega fogo


poderia ter sido outro, mas é esse o poema ano novo



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