quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Upaon-açu

saio pela cidade
rememorando o que perdemos no caminho
mais que migalhas
para sair e para voltar
sujamos nossos pés na lama
no esgoto
céu aberto, ferida, sôfrego

o que ali estava
resta apenas mil ruínas de um corpo
estilhaçado, esquartejado, liquidado

que karma para você
que era tão bonita
que é tão bonita

e mal consigo reconhecer teus traços
e teu sorriso
e mal quero assumir nosso parentesco

pergunto-me se tenho vergonha
raiva ou só um descontento

crônicas cotidianas de lamento
nas ruas apagadas
cheiro de mijo e bosta
vultos de zumbis
ou sujas abordagens
pedindo vinte e cinco centavos
ao mesmo tempo que espreita nossa bolsa
poluição de tudo
do mangue, do mar, do trânsito, do som
uma zuada suja intermitente
da falta de opção

no público cujo sinônimo é decrépito
nos homens de atos medíocres
no horto que subimos de costa
olhando para trás
procurando algum vestígio do que fomos
e esperando a volta do pêndulo

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